segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Governismo no legislativo

Eduardo Campos iniciará novo mandato com o apoio de 39 dos 49 deputados estaduais eleitos

Além de ter sido reeleito com a maior vitória proporcional na corrida pelo Executivo estadual no país, o governador Eduardo Campos (PSB) iniciará o segundo mandato, em 1º de janeiro, estabelecendo uma marca na história recente da Assembleia Legislativa. Pelo menos até onde alcança a memória de deputados veteranos, nunca a Casa esteve tão governista. Oficialmente, são 39 entre 49 parlamentares. No entanto, calcula-se que pelo menos três eleitos por partidos de oposição (do PSDB especificamente) já tenham se inserido no bloco que dirá sim ao Palácio do Campo das Princesas. Só do PSB são 13, o que corresponderá a 1/3 da bancada situacionista. O total garante à sigla, presidida nacionalmente por Eduardo, o status de maior bancada já eleita pelo partido do governador na Casa de Joaquim Nabuco.

Uchoa afirma que nos últimos anos nenhum governador obteve tamanha maioria Foto: Ricardo Fernandes/DP/D.A Press - 16/04/09
Nos últimos 16 anos, estima o presidente da Assembleia, Guilherme Uchoa (PDT), nenhum um outro governador teve tanto apoio. De acordo com o líder da bancada do governo, Isaltino Nascimento (PT), o ex-governador e hoje senador Jarbas Vasconcelos (PMDB) chegou a formar um grupo de 35 deputados em 2002, quando iniciava seu segundo governo. Já o antecessor, ex-governador Miguel Arraes - avô de Eduardo, falecido em 2005 - tinha uma base que flutuava entre 27 e 30, de acordo com avaliações de Uchoa. ´Não me lembro de uma bancada maior do que a que apoiará Eduardo nesse segundo mandato`, disse o presidente da Assembleia, que será mantido no cargo depois de dois períodos no comando da Casa.

O governismo no Legislativo estadual não é novidade em Pernambuco, assim como nos demais estados. Mas o aumento da base conseguido por Eduardo entre 2006 e 2010 chama a atenção. De 33 chegou a 39. Um aumento de 12,2%. Ao se somar os que estão se chegando, o avanço corresponde a 18,3%. O crescimento obtido por Eduardo na base na Alepe reflete o salto que ele obteve nas urnas. Em 2006, foi eleito em segundo turno com 65,3% dos votos válidos. Este ano, computou 82,4%.

Tamanho favorecimento do governador pode transformar a Casa num mero posto de legalização de projetos do Executivo. Além disso, a capacidade de questionar, criticar, fiscalizar e apresentar denúncias contra o governo tende a cair. Ou seja, a Assembleia pode ter as funções limitadas por contas do governismo. Uchoa contesta. ´O estado continuará vivendo sua melhor época. O deputado fica feliz quanto o estado cresce`, disse, reforçando o discurso oficial de que o governo expõe suas contas no Portal da Transparência, o que, segundo ele, é o atestado de que a gestão pode ser facilmente fiscalizada.

Ao longo do primeiro mandato, o ´rolo compressor` governista aprovou praticamente todos os projetos enviados pelo Executivo. Apenas um que tratava de crédito suplementar para a área cultural foi derrotado. Mesmo assim, dias depois a própria Casa reenviou o texto e o aprovou sem problemas. O petista, aliás, teve uma atuação bastante antenada com o Palácio e deve ser mantido no cargo para o novo mandato. A reportagem tentou falar com integrantes da oposição, mas não houve retorno. (Josué Nogueira)

Nenhum comentário: