Depois de mais de 13 anos de cirurgias, remédios e tratamentos, o empresário e político apaixonado pelo debate nunca perdeu o bom humor.
José Alencar teve uma vida marcada por histórias de superação. A fala mansa, calma típica de Minas Gerais, não escondia as convicções de José Alencar. A determinação explica a bem-sucedida carreira do menino de Muriaé, que começou como balconista aos 14 anos. Virou patrão aos 18, dono de uma loja de tecidos, e chegou ao comando de um dos maiores grupos da indústria têxtil da América Latina: a CoteMinas. A trajetória ele tinha gosto de contar.
“Os tempos são sempre difíceis, porque os recursos são sempre escassos. Então, importante é administrar bem os recursos escassos”, disse José Alencar.
O mineiro do interior virou porta-voz do setor produtivo em Brasília. Na década de 1990, estava sempre à frente das negociações como presidente da Federação das Indústrias de Minas Gerais. “Não tem sentido congelar preços de setores competitivos. O que o governo precisa é controlar preço dos setores cartelizados”, afirmou Alencar.
José Alencar entrou na política em 1994. Disputou o governo de Minas. Perdeu, mas não desistiu. Foi eleito senador quatro anos depois com três milhões de votos. O espírito de liderança entre os empresários e o tom negociador fizeram o nome de José Alencar ser disputado por vários partidos na corrida presidencial de 2002, mas foi com Luiz Inácio Lula da Silva que decidiu compor a chapa do que chamava “Pacto entre o capital e o trabalho”.
Era mais do que uma aliança política. A afinidade com o presidente Lula era perceptível, mas não poupava críticas quando achava necessário. E o alvo era sempre o mesmo: a taxa de juros. “Dizem que as taxas de juros não baixaram mês passado porque eu falei. Então, de pirraça, não baixaram. Daqui para frente eu vou falar: ‘Mantenham os juros, aumentem os juros’”, ironizou.
O nome de José Alencar foi sempre lembrado na hora de mediar crises. Não foi diferente quando acumulou o cargo de ministro da Defesa, em 2004. Seguiu ao lado do presidente na disputa pela reeleição, firme na defesa do crescimento econômico. “Desde que o Brasil precise de mim, eu estou disponível”, afirmou.
Dois mil e seis foi um ano difícil. José Alencar enfrentou duas cirurgias para retirada de um câncer no aparelho digestivo. No ano seguinte, mais uma operação. Mesmo com o desgaste do tratamento, ele não se deixava abater. “Reza pra mim. O negócio está feio. Eu estou saindo satisfeito porque eu sou assim mesmo, mas que a coisa é preta é”, comentou.
Nem deixava de emitir a sua opinião. Foi assim na porta do hospital, quando comentou o aumento de impostos para compensar o fim da CPMF. “O grande compromisso nosso é com a reforma tributária. Essa precisa sair. Aí podemos consertar essas coisas erradas que têm no sistema tributário brasileiro. Mas com esses remendos nós não vamos consertar nunca”, disse.
Ao todo, foram 17 cirurgias. José Alencar conversava sobre o tratamento com a mesma serenidade que falava da morte. “Eu não posso de forma alguma pensar que vai acontecer alguma coisa comigo sem que Deus queira. E se Deus quiser, inclusive que eu morra, é porque vai ser bom para mim. Porque Deus não faz nada ruim contra ninguém”, declarou.
Não hesitou em testar novos medicamentos. Participou nos Estados Unidos de um tratamento experimental, mas o tumor voltou a crescer. Depois de mais de 13 anos de cirurgias, remédios e tratamentos, o empresário e político apaixonado pelo debate nunca perdeu o bom humor.
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